A origem das deficiências na Judéia
Se analisarmos com cuidado os Evangelhos narrados por 4 diferentes
autores (Mateus, Marcos, Lucas e João) verificaremos que
havia uma crença bastante arraigada no povo judeu daquelas
épocas, de que a maioria dos males que afetavam os seres
humanos era conseqüência da interferência de maus
espíritos ou de um desconhecido sistema de pagamento por
pecados antigos. Na verdade, estudiosos dos usos e costumes antigos
dos povos do Oriente Médio indicam que a medicina contida
tanto nos Evangelhos quanto nos Atos dos Apóstolos aceitava
três tipos de causas para as muitas limitações
e deficiências: o castigo pelos pecados, a interferência
direta dos maus espíritos e as forças más da
natureza, contra as quais apenas o poder divino era o único
remédio.
Claro que as narrativas foram preparadas por autores da época,
para a pouco culta população da época.
Alguns dos milagres relatados
Lucas, o evangelista médico, narra o seguinte: "E eis
que veio uma mulher que estava possessa de um espírito que
a tinha doente há 18 anos; e andava encurvada e não
podia absolutamente olhar para cima". Na mesma passagem ele
coloca as seguintes palavras na boca de Jesus: "Mulher, estás
livre de tua enfermidade". Não fala em demônios
ou em maus espíritos, mas em "enfermidade".
Mas, como vimos, a crença generalizada enfatizava sempre
o demônio ou os maus espíritos. Vejamos o que diz Mateus:
"E tendo-se estes retirado, apresentaram-lhe um homem mudo,
possesso pelo demônio. E, expulso o demônio, falou o
mudo"...
O destino das pessoas com deficiência
Na Judéia antiga, dos tempos de Jesus Cristo, o destino
das pessoas que tinham qualquer deficiência era esmolar para
conseguir sobreviver. Os cegos, os amputados, os paralíticos
pelas mais variadas causas, acabavam expostos pelos caminhos, ruas,
logradouros e praças públicas. Lucas afirma: "Vai
já pelas praças e pelas ruas da cidade e traze cá
os pobres e os aleijados, e cegos e coxos." Mateus corrobora
a imagem ao afirmar: "E eis que dois cegos que estavam sentados
junto à estrada"...
Evidentemente naquela época o transporte ou a simples movimentação
de pessoas mais seriamente deficientes representava um grande problema.
Podemos até imaginar a aflição de parentes
e amigos dessas pessoas ao saber da existência de um rabino
miraculoso nos arredores. Marcos conta que "foram ter com ele
conduzindo um paralítico que era transportado por quatro.
E como não pudessem apresentá-lo por causa da multidão,
descobriram o teto pela parte debaixo da qual Jesus estava e, tendo
feito uma abertura, arriaram o leito em que jazia o paralítico".
Ruínas da Piscina
Probática |
A piscina probática
Em Jerusalém dos tempos de Jesus Cristo
havia, bem ao lado do templo, um tanque ou piscina que era destinada
à purificação dos animais que seriam sacrificados.
Era conhecida como "piscina probática" (do grego
probaticon), ou seja, relativa a carneiro ou a ovinos em geral. Na
língua hebraica era conhecida como "Betsaida". Às
suas bordas, a despeito dos objetivos principais, mantinha-se elevado
número de enfermos, aleijados e paralíticos, porque,
segundo todos acreditavam, várias vezes ao dia um anjo de Deus
ali descia para "movimentar as águas". Era, como
se pode bem imaginar, um momento muito esperado e tenso, pois, apenas
o primeiro que ali se banhasse teria seus males curados.
Foi exatamente nesse ambiente que Jesus realizou
um de seus famosos milagres, beneficiando um homem paralítico
há 38 anos e que nunca havia conseguido ser o primeiro a
chegar às águas de Betsaida, por não ter pessoa
alguma que o ajudasse.
Outros milagres de Jesus
Segundo os relatos dos evangelistas, Jesus realizou ao redor de 40
milagres notórios. Deles todos, pelo menos 21 são relacionados
a pessoas com os mais variados tipos de deficiências físicas
ou sensoriais e doenças crônicas. |