Na bem organizada Ala Egípcia da NY
Carlsberg Glyptotek de Copenhague, Dinamarca (museu de artes),
o visitante pode admirar, no meio das mais variadas obras resgatadas
do Egito Antigo, uma pequena, bonita e singela estela da XIX Dinastia
(mais de 1.300 anos Antes de Cristo).
Muito famosa nos meios da
ortopedia mundial, essa pequena placa de pedra já ilustrou
livros de história da medicina, porque retrata um momento
muito especial na vida de um homem bem posicionado, que apresenta
uma deficiência física muito evidente.
Na própria estela esse
homem está identificado como Roma, ocupante de um cargo
de grande responsabilidade em seus dias: porteiro do templo
de um dos deuses egípcios.
Devido à multiplicidade
de versões e interpretações quanto ao significado
da cena ali retratada, nada melhor do que o próprio Museu,
que é proprietário da peça em questão,
para estabelecer com clareza seu sentido. Segundo a Ny Carlsberg
Glyptotek, estes são os dados principais a seu respeito:
1. Trata-se de uma Estela
votiva (classificada como AAEIN 134), da XIX Dinastia e originária
de Memphis. Tendo sua parte superior côncava, mede 0,27
cm de altura por 0,18 cm de largura e sua coloração
natural (cor de mel) está parcialmente conservada.
2. Ao alto da Estela está inscrita sua dedicatória
com hieróglifos originalmente coloridos de azul: "À
Deusa Astarte". E, no campo principal, logo abaixo, vemos
claramente a identificação do "porteiro Roma",
sua esposa "Amaô" e seu filho "Ptahemheb".
O grupo leva oferendas à poderosa deusa. O porteiro Roma
está em pé perto de uma pequena mesa coberta de
alimentos e de flores, que ele molha com água benta,
apresentando, com sua mão esquerda, um pão num
vaso de pé alto. Com uma postura muito digna, faz sua
oferenda nestes termos: "Receba estes bens para sua alma".
3. A esposa, por sua vez, postada logo atrás, num vestido
longo e justo, leva uma pequena bandeja com algumas bananas
e conduz um antílope seguro pelos chifres. O pequeno
Ptahemheb está postado logo atrás.
4. Nota-se que o porteiro Roma, de cabeça raspada, veste
uma túnica de tecido muito fino, curta e pregueada, parcialmente
transparente. Sua perna esquerda apresenta uma evidente anomalia
de musculatura. Seu pé está atrofiado (pé
eqüino), provavelmente devido à poliomielite, segundo
opinião de alguns médicos atuais. Deve ter tido
dificuldades para andar com segurança, porque leva consigo
um longo bastão de apoio, que durante a cerimônia
permanece apoiado em seu braço esquerdo.
5. Abaixo da cena, num campo separado e bastante prejudicado,
em caracteres negros semi-destruídos, estudiosos conseguiram
resgatar a prece básica e o motivo da própria
Estela: "Que o rei (o faraó) esteja de acordo e
permita, para que Astarte Síria, a soberana dos céus,
a senhora das duas terras, a primeira entre os deuses, também
esteja favorável e conceda........ boa...... alegria
e felicidade e um bonito funeral no deserto ocidental de Memphis
à alma do Porteiro Roma".
Nota:
Material adaptado do livro de minha autoria "A Epopéia
Ignorada: A Pessoa Deficiente na História do Mundo de
Ontem e de Hoje" - Editora CEDAS, 1986.
(*) Otto Marques da Silva
Consultor em Reabilitação Profissional
..
|
|